MUSICOTERAPIA

INTRODUÇÃO

A música é um dos elementos mais importantes para a formação humana. Ela faz a diferença no dia-a-dia, especialmente nos momentos lúdicos, que são os mais importantes para o bem-estar e a qualidade de vida. Presente na educação desde o início da vida, ela é capaz de dar qualidade ao conteúdo trabalhado, além de ajudar a aprofundar questões subjetivas. A terapia pode ser uma conseqüência do uso da música na educação: a informação unida aos elementos musicais e todas as suas potencialidades, é capaz de contribuir no exercício de libertar o ser humano dos grandes males da humanidade.
Este trabalho quer refletir sobre os efeitos desta tríade, que é capaz de ajudar a construir em “terra firme” a casa interior dos homens e mulheres de hoje.

I – A MÚSICA

Podemos encontrar os mais diversos conceitos da Música. É uma prática humana por excelência, de idade semelhante ao homem, seu feitor e está presente em todos os momentos da vida do homem, desde o seu nascimento, nos eventos importantes dos ritos de passagem, até a morte. Encontraremos infinitas definições sobre ela:
- “É a arte de combinar os sons”,[1] composta de melodia, harmonia e ritmo.
- “... é vocábulo de origem grega que significa a arte das musas. É a arte de escolher, dispor e combinar sons. É ciência e arte”.[2]
- “constitui-se basicamente de uma sucessão de sons e silêncio organizada ao longo do tempo. É considerada por diversos autores como uma prática cultural e humana.”[3]
Enfim, no contexto da Musicoterapia, é cabível a definição de Música como uma “Metáfora”[4] da vida, aonde podemos criar e articular idéias sobre nós mesmos e sobre o mundo “em formas sonoras”.[5]
Enfim, Música é uma ciência capaz de tocar a profundidade do ser de cada indivíduo e fazê-lo exprimir suas mais diferentes emoções e sentimentos. É a arte que chega mais perto da verdade do homem.

II – A EDUCAÇÃO

No campo da arte está também a educação. Ela acompanhou o ser humano desde os primórdios da civilização. Como a música, ela é uma arte que incide no indivíduo, atinge os mecanismos da subjetividade e constrói o homem e a mulher.
O termo educação possui conceitos muito amplos. Educação é o “ato ou efeito de educar; processo de desenvolvimento da capacidade física, intelectual e moral da criança e do ser humano em geral, visando à sua melhor integração individual e social”[6] O ato de educar acontece na relação entre as pessoas, é no espaço da convivência que, de maneira recíproca, acontece a transformação das pessoas. Isso porque as diferenças da visão de mundo de uma pessoa complementam o outro.
É o ato de educar, Educar é um processo que tem dois movimentos: o ato de ensinar (transmitir conhecimentos) e o ato de aprender (receber os conteúdos e processá-los). Os conhecimentos científicos e tecnológicos de que hoje desfrutamos são frutos do desenvolvimento ou aperfeiçoamento humano (educação).
Cada cultura tem sua noção de educação, de aperfeiçoamento do ser. Os grupos indígenas, os africanos, os latino-americanos... cada povo possui uma idéia diferente sobre a construção ontológica de cada membro do seu povo.
Portanto, educação é transformação, movimento de aperfeiçoar e aprofundar o conhecimento sobre si mesmo e optar por novas atitudes diante da vida, do mundo e de si mesmo.

III - TERAPIA

A palavra “Terapêutica” vem do vocábulo grego “therapeutiké” para o Latin “therapeutica”. É “parte da medicina que estuda e põe em prática os meios adequados para aliviar ou curar os doentes; terapia”.[7] É “o ramo da medicina que trata da escolha e administração dos remédios”.[8] O Dicionário Barsa reza que “a Terapêutica constitui o objetivo principal da Medicina e, portanto, a preocupação constante e única do médico, a quem não basta, bem como ao doente, o reconhecimento exato da doença, isto é, o diagnóstico”.[9]
Através da Terapêutica, podemos encontrar os caminhos para a recuperação do equilíbrio psíquico ou corporal. Para isso, é preciso fazer séria investigação a respeito das causas do desequilíbrio em questão e das intervenções a serem feitas.
Destarte, uma das características de toda ciência é a sua evolução. A Medicina está a todo momento progredindo para encontrar métodos e remédios mais eficazes para as enfermidades do homem contemporâneo. Apesar disso, muitos males não têm ainda uma terapia eficiente. Daí a importância da parceria entre os saberes. Isso poderá auxiliar na cura dos incômodos que o ser humano apresenta. Daí, a importância da interdisciplinariedade entre as ciências, um bem para a humanidade.

IV - MÚSICA, EDUCAÇÃO E TERAPIA

Em todos os tempos e culturas podemos detectar uma inter-relação entre a Música, a Educação e a Terapia. É importante perceber uma característica comum nesta tríade:
1) São ciências que trabalham com realidades subjetivas. É o campo da poesia (Música e Educação), embora a Terapia possua também o seu lado empírico no conhecimento (a cura do corpo).
2) São artes, enquanto “capacidade natural ou adquirida de pôr em prática os meios necessários para obter um resultado”.[10] São passíveis de manipulação humana com o objetivo de desenvolver e acrescentar ao homem maior bem-estar e qualidade de vida.
3) Necessita de um especialista que detém e aplique os conhecimentos adquiridos.
4) Na aplicação dos conhecimentos científicos, os efeitos incidem diretamente na pessoa humana, provocando transformação visível e qualitativa.

Para progredir em sua estrutura de ser, o homem necessita de instrumentos que o auxiliem a alcançar um nível satisfatório de sociabilidade. Assim como toda a arte, a Música é um dos instrumentos poderosos para se a aquisição de conhecimentos e do desenvolvimento integral da pessoa.
Entendemos que a Música e a Educação podem levar o ser humano ao mais alto grau de sociabilidade. Se estas duas ciências são capazes de trabalhar a pessoa por dentro (dimensão ontológica), a Terapia vai mais além: além de auxiliar o indivíduo em suas mazelas psicológicas, alcança também sua realidade material (dimensão ôntica). A Educação promove a construção e transformação da casa interior do ser humano; a Música tem uma tarefa intransferível nessa empreitada: ela trabalha situações e espaços interiores que outras ciências não conseguem adentrar. Música e Educação possuem as receitas para a Terapia.
Como o ser humano caminha na dinâmica da vida (que tem suas dissonâncias, silêncios, harmonias, discordâncias, acidentes, graves e agudos), o homem precisa completar suas lacunas, refazer caminhos interiores, encontrar os sabores, retomar o sentido de sua existência. Nos dias de hoje, muitas são as barreiras que deixam marcam profundas no coração (lugar da intimidade, dos desejos, do sentido da existência e das verdades mais consistentes da pessoa). Para que aconteça a volta ao equilíbrio natural do caminho, faz-se necessária uma parada para detectar as anomalias e, através da Terapia, reconduzir o ser ao seu lugar de origem para assim, continuar o caminho.
O processo terapêutico não é de todo prazeroso. Para curar feridas, muitas vezes são necessárias intervenções dolorosas que aparentemente aumenta a dor no ferimento. Mas, a Música tem a capacidade de interferir na dor, angústia ou ansiedade e diminuir a sensação dolorosa tão presente nessas intervenções.
No processo terapêutico, a Música tem a capacidade de incidir e produzir bons resultados. Pesquisas mostram que o uso da música em consultório odontológico, ajuda o paciente a não sentir ansiedade e medo no tratamento. [11] A Associação Brasileira de Ensino Odontológico – ABENO – num Seminário em 2001, já apresentava relatório com resultados positivos.[12]

V - MÚSICA COMO SERVA

No contexto terapêutico, a Música pode ser considerada “serva” da Educação. Tomemos como exemplo um educador que deseja refletir com seus alunos a importância e o valor das marcas que cada pessoa deixa no outro a cada encontro e a amizade por aqueles que convivem conosco. Ao trabalhar esses valores, o orientador poderá usar a música “Voltei pra Perguntar”, de Fábio de Melo.[13]

O que deixo, o que marco em sua vida/ Quando eu passo por você?/ O que os meus olhos confessam/ Quando encontram com os seus?/ Se eu deixo uma saudade boa pra lembrar/ O que fica de mim?Eu pergunto se valeu a pena/ Ter deixado eu ir além/ Ter entrado aí na sua casa/ Dividindo o que é seu/ Essa vida vai muito depressa/ E é bom saber/ O que deixei de mim?Pode ser que nesta vida/ Eu não possa mais voltar/ Para amar quem não amei/ Consertar o que estraguei/ O perdão que eu não pedi/ A solidão que eu não desfiz/ O sorriso que neguei/ E aquele esforço que eu não fizEu sei que o tempo vai passar/ As pessoas vão e vêm/ Mas sei que algumas vão ficar/ Pelo mal ou pelo bem/ Não morrerá quem soube amar/ E que seja sempre assim/ Que eu deixe só o bem que existe em mim.Se com você não consegui/ Eu voltei, quem sabe assim/ A gente possa se olhar/ Como quem nunca se viu/ E no perdão recomeçar.../ Pra depois se reconhecer/ Minha vida é bem melhor por ter você!

A partir da letra, o orientador poderá instigar à reflexão do tema e de tudo o que for expresso pelo grupo. Esta, pode utilizar aquela para conquistar a atenção do grupo e, através da poesia, expressar o conteúdo. Dependendo da habilidade de quem conduz, a discussão incentivará os alunos a se conhecerem mais uns aos outros e chegará a conteúdos de grande profundidade de vida.
Assim sendo, a Música, utilizada com fins educativos, provoca a expressão dos conteúdos de vida e motiva os participantes a mudarem suas atitudes em relação às mais diferentes realidades. É a Música servindo de suporte para a Educação.
Da mesma forma, a Música é serva da Terapia. Por isso é usada pelos psicoterapeutas para auxiliar no tratamento de diversos males como a depressão, a ansiedade, a insônia, o alívio de dores, etc.
Enfim, seja para a Educação ou para a Terapia, a Música é uma ciência, por natureza humilde. Não no sentido de pobreza ou submissão, mas com atitude de sensatez: enquanto produz apoteose e atinge o píncaro das emoções humanas, é capaz de estar presente em todas as ciências e servi-las; não quer se projetar para estar acima das outras ciências, para ser a melhor, mas está em todas elas; sabe de suas limitações e respeita os outros saberes; e, na maioria das vezes somente ela consegue atingir o os terrenos internos que as outras ciências não consegue chegar. É como a água que fecunda o solo e, sem a vermos empiricamente, dá novo colorido à terra e frutos abundantemente. “Como pode um peixe vivo viver fora da água fria? Como poderei viver?”
“A minha alma chorou tanto,que de pranto está vaziaDesde que aqui fiquei,sem a sua companhia Não há pranto sem saudadenem amor sem alegriaÉ por isso que eu reclamodessa sua companhia Como pode um peixe vivoviver fora da água fria?Como poderei viverComo poderei viverSem a tua, sem a tuasem a tua companhia?Sem a tua, sem a tuasem a tua companhia?”[14]
Tentar viver sem a música é o mesmo que viver fora da lagoa.

CONCLUSÃO

As harmonias resultantes da combinação dos sons (Música) podem auxiliar no aperfeiçoamento interior do ser humano (Educação). Nesse processo de transformação do indivíduo, faz-se necessária a cura e a prevenção de algumas enfermidades. É o trabalho de harmonização do ser (Terapia).
Enfim, Música e Educação são ciências presentes em nosso dia-a-dia. Seus conhecimentos nos oferecem caminhos para a Terapia. Basta que lancemos mão das técnicas e da criatividade e busquemos oferecer nossa marca que possa engrandecer e aperfeiçoar a humanidade.

AUTOR: José de Lima Torres

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] CARDOSO, Belmira e MASCARENHA, Mário: Curso Completo de Teoria Musical e Solfejo. Vol I; Irmãos Vitale, São Paulo, 1973.
[2] BRESCIA, Vera Lúcia Pessagno. Educação Musical: Bases Psicológicas e Ação Preventiva. Editora Átomo, Edições PNA; São Paulo, 2003. PP. 25
[3] WEB: http://pt.wikipedia.org/
[4] SWANWICK, Keith: Ensinando Música Musicalmente. Editora Moderna, , São Paulo, 2007. Cap I
[5] Idem PP. 18
[6] Dicionário AURÉLIO, 2ª Edição, Nova Fronteira, Rio de Janeiro.
[7] Idem Dicionário AURÉLIO
[8] Cf;ROCHA<>[9] ENCICLOPÉDIA BARSA, Enciclopédia Britânnica Editores LTDA; Rio-São Paulo, 1978, Vol. 13, pg. 217
[10] Idem AURÉLIO: verbete ARTE
[11] Cf. WEB: http://www.apcdaracatuba.com.br/revista/volume_26_02_jul-dez_2005/PDF%20TRABALHOS/TERAPIA%20COMPLEMENTAR.PDF

[12] A UTILIZAÇÃO DA MÚSICA NO CONSULTÓRIO ODONTOLÓGICO: “A presente pesquisa objetivou estudar e testar a efetividade da música como condicionante no tratamento odontológico. Fizeram parte 40 cirurgiões-dentistas das variadas especialidades odontológicas, selecionados aleatoriamente através de suas inscrições no CRO-MA. Os profissionais responderam a um questionário contendo 10 perguntas relacionadas à pesquisa. Na perspectiva de dotá-la de informações complementares, foram realizadas visitas aos consultórios odontológicos dos profissionais que utulizam a música nos procedimentos clínicos. Utilizou-se a técnica da observação participante, na qual a pesquisadora pode analisar a relação paciente-profissional durante o uso da música como auxiliar condicionante no tratamento. Concluiu-se que a musicoterapia é um recurso eficiente que o profissional pode utilizar para tornar o tratamento odontológico mais tranquilo e com melhor aceitação pelo paciente. Como recurso terapêutico auxiliar é pouco aplicado pelos profissionais; os odontopediatras que a utilizam no consultório não o fazem de maneira adequada e não dominam a técnica.” (Cf. WEB: http://www.abeno.org.br/anais/anais2001.htm)
[13] CD “Humano Demais”, 2003.

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